Impacto da Selic no custo das operações em saúde
- Warley Melo
- 6 de fev.
- 4 min de leitura

Por Warley Melo
Head da Saúde Global
A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, é uma das principais variáveis que afetam o ambiente financeiro do país. Seu impacto é amplificado no setor de saúde, onde os custos operacionais são altos e há dependência de crédito para investimentos. Além disso, a valorização do dólar e o VCMH (Variação de Custos Médico-Hospitalares) adicionam camadas de complexidade. Este artigo busca oferecer uma análise técnica e prática sobre como esses fatores influenciam o setor e orienta pequenos empresários de saúde a enfrentar esses desafios.
O que é a Selic e como ela afeta o setor de saúde?
A Selic, definida pelo Banco Central, orienta todas as demais taxas de juros no país. Sua variação é utilizada para controlar a inflação e influenciar a economia:
Selic alta: Crédito mais caro e desestímulo ao consumo e aos investimentos.
Selic baixa: Crédito mais acessível, estímulo ao consumo e à expansão.
No setor de saúde, a Selic elevada afeta diretamente:
Financiamentos e empréstimos: Juros mais altos tornam mais caro o financiamento para compra de equipamentos, expansão de clínicas e capital de giro.
Pressão nas margens: Com custos financeiros mais elevados, é mais difícil manter a rentabilidade.
Redução de beneficiários: A parte ruim de uma Selic alta é que ela desacelera o ritmo da economia. Isso afeta o mercado de trabalho, aumenta o desemprego e reduz o número de beneficiários de planos de saúde.
Por que o dólar sobe mesmo com a Selic alta?
Embora a Selic elevada normalmente valorize o real, o cenário atual apresenta uma valorização do dólar, causada por fatores externos e internos:
Fatores externos:
Juros altos nos EUA e na Europa: Com juros mais altos nesses mercados, muitos investidores preferem aplicar em ativos de renda fixa atrelados ao dólar ou ao euro, considerados menos arriscados que o real. Isso faz com que dinheiro saia do Brasil e vá para esses mercados, provocando a desvalorização do real.
Aversão ao risco global: Crises econômicas e instabilidade geopolítica levam investidores a buscar segurança no dólar.
Fatores internos:
Incertezas fiscais: Riscos relacionados ao endividamento público brasileiro desestimulam o investimento estrangeiro.
Déficit comercial: A dependência de importações aumenta a demanda por dólares, pressionando sua cotação.
Impacto do dólar alto no setor de saúde:
Aumento de custos: Equipamentos médicos, medicamentos e materiais hospitalares importados ficam mais caros.
Dificuldade de repasse: Em um mercado competitivo, repassar custos para os clientes nem sempre é viável ou possível, especialmente para serviços de saúde que operam com credenciamento junto a convênios (operadoras de planos de saúde).
VCMH: A Medida dos custos no setor de saúde e sua relação entre Selic
O VCMH (Variação de Custos Médico-Hospitalares) mede a evolução dos custos das operadoras de saúde. Ele considera despesas com internações, terapias, exames e consultas.
O VCMH subiu 12,7% nos últimos 12 meses, enquanto a inflação oficial (IPCA) foi de 5,2%.
O VCMH reflete a alta dos custos operacionais, especialmente aqueles relacionados a insumos importados, que são impactados pelo dólar elevado.
A Selic alta torna o financiamento mais caro, dificultando investimentos e ampliando a pressão sobre as margens operacionais das empresas.
Desempenho das Empresas de Saúde listadas na Bolsa
Empresas como Rede D'Or (RDOR3), DASA (DASA3), Kora Saúde (KRSA3) e Oncoclínicas (ONCO3) enfrentam os mesmos desafios, mas em uma escala maior. Seus dados referentes ao 1º Semestre de 2024 ilustram como Selic, dólar e VCMH impactam o setor.
Empresa | Receita (R$ milhões) | Custo dos Serviços (%) |
Rede D’Or | 24.699 | 81,29% |
DASA | 7.684 | 71,30% |
Kora Saúde | 1.148 | 79,25% |
Oncoclínicas | 3.026 | 66,65% |
Fonte: www.investsite.com.br. 1º Sem/2024
Observa-se que o custo dos bens e/ou serviços representa, em média, 74,6% da receita das principais empresas do setor de saúde.
Estratégias Práticas para Pequenos Empresários
Apesar dos desafios, pequenos empresários podem adotar medidas práticas para mitigar os impactos e melhorar a eficiência:
1. Gestão Financeira
Planeje o fluxo de caixa e acompanhe periodicamente, priorizando pagamentos essenciais e investimentos estratégicos;
Acompanhe mensalmente os resultados contábeis e geração de caixa com indicadores que auxiliem na leitura da operação (ciclo de caixa, custo operacional, margem de contribuição, entre outros);
Implante e acompanhe a previsão orçamentária da empresa. A definição de metas para receita, custos e despesas contribui para um melhor acompanhamento dos resultados;
Monitore as taxas de câmbio, juros e outras despesas financeiras para antecipar mudanças no ambiente econômico;
2. Redução de Desperdícios
Avalie processos internos para identificar e eliminar desperdícios buscando eficiência operacional;
Monitore o estoque de materiais e medicamentos;
Negocie contratos com fornecedores para obter melhores condições de preço e prazo.
3. Investimento em Tecnologia
Adote softwares de gestão que ajudem no controle financeiro e operacional;
Assegure que a equipe utilize o sistema de gestão de forma consistente, evitando o uso de controles paralelos em Excel. É importante lembrar que planilhas devem complementar e apoiar a tomada de decisões, mas nunca substituir um software de gestão financeira ou o ERP da empresa.
Considerações Finais
A combinação de Selic alta, dólar valorizado e VCMH crescente cria um ambiente desafiador para o setor de saúde.
Pequenos empresários enfrentam os mesmos desafios de grandes corporações, mas com recursos mais limitados. Adotar estratégias de gestão financeira, controle de custos e inovação tecnológica pode ser a chave para superar esses obstáculos.
Compreender o impacto dessas variáveis econômicas no seu negócio é o primeiro passo para tomar melhores decisões e garantir a sustentabilidade do seu empreendimento. Apesar das dificuldades, com planejamento e adaptação, é possível prosperar em um cenário econômico desafiador.
Ótimas informações.