Implementação de Linhas de Cuidados Oncológicos: impacto na redução do custo oncológico

Por Juliana Vasconcellos,

Head da Saúde Global

As linhas de cuidado oncológicos são um conjunto de ações que visam orientar o atendimento aos pacientes e familiares, desde a descoberta da doença até a reabilitação. O importante é manter um continuum do controle do câncer, uma estrutura útil para visualizar os planos, o progresso e as prioridades. Isso nos ajuda a identificar lacunas de pesquisa, onde é preciso colaborar com outros para ter um impacto e onde mais recursos podem ser necessários.

Essas linhas de cuidado são definidas por diretrizes clínicas e assistenciais que articulam os serviços de saúde. Tem como objetivo principal promover a integração entre os serviços de saúde; facilitar o fluxo de atendimento; orientar profissionais de saúde, gestores e cidadãos; padronizar ações de plano de cuidados; organizar o continuum assistencial e com isso, garantir a integralidade do cuidado.

Nos últimos anos, o aumento da incidência do câncer e a complexidade dos tratamentos está tornando-se essencial a implementação de linhas de cuidados oncológicos para otimizar recursos, melhorar desfechos clínicos e reduzir custos. Uma linha de cuidado com abordagem estruturada promove o uso racional dos recursos de saúde.

Para criação e implementação de linhas de cuidados existem premissas estruturais como: mapeamento da rede, oficinas de trabalho e definição de processos e fluxos, após, garantir treinamento de lideranças e equipe. Esse processo deve ser visto, como um processo de médio a longo prazo, na medida em que muitas vezes é necessário o envolvimento de mudanças estruturais no sistema, mudança de comportamento e de atitudes de seus profissionais.

Benefícios da implantação de linhas de cuidados oncológicos

Como benefícios da implantação de linhas de cuidados oncológicos podemos citar ações que são essenciais para efetividade do processo, como a padronização de protocolos e diretrizes baseadas em evidências, pois implementando protocolos validados reduz a variabilidade no tratamento, garante o uso racional de exames e terapias, diminuindo desperdícios e procedimentos desnecessários. Adotando assim, tratamentos custo efetivos que reduzem o impacto financeiro no sistema de saúde.

Outro benefício de suma importância é o diagnóstico precoce e prevenção, onde programas de rastreamento aumentam a taxa de detecção precoce, sendo assim, neoplasias diagnosticadas em estágios iniciais reduz a quantidade de tratamentos agressivos e onerosos. E a principal ação são campanhas de prevenção e mudança de estilo de vida, diminuindo a incidência de casos.

Logo, a gestão integrada do paciente, onde equipes multidisciplinares garantem um cuidado coordenado e eficiente, com o monitoramento do continuum do câncer e a integralidade do acompanhamento geram redução em complicações e assim reinternações.

Posteriormente, o uso racional de tecnologia e medicamentos, com a atenção voltada para avaliação de custo efetividade onde a incorporação de novas terapias e negociação com fornecedores otimizam os custos. Esta etapa, é de suma importância em centros ambulatoriais de oncologia, por exemplo, trabalhando com o “agendamento inteligente”, concentrando pacientes que fazem uso de medicamentos de alto custo e de baixa estabilidade em dias específicos evitando perdas.

Em seguida, a atenção primária e cuidados paliativos, integrando a atenção primária para acompanhamento e prevenção e detecção precoce, mas também visando os cuidados paliativos precoces que melhoram a qualidade de vida e reduzem intervenções desnecessárias. A redução de internações e tratamentos desnecessários pois com a implementação de programas de assistência domiciliar reduz hospitalizações. Durante a pandemia, fomos obrigados a adotar medidas necessárias visando o isolamento, com isso, ocorreu um aumento do uso da telemedicina, que se tornou hoje uma ferramenta que auxilia e otimiza tempo e custo, e seu uso é frequente para acompanhamento remoto, adesão e eficácia nos tratamentos.

Finalmente, modelos de pagamento baseados em valor. A tendência atual é a substituição do modelo de pagamento por volume pelo pagamento por desfecho (value-based healthcare), onde os contratos de risco compartilhado entre as operadoras e fornecedores otimizam a alocação de recursos.

Conclusão

Por fim, as linhas de cuidado oncológicos tornam-se essenciais para garantir um tratamento eficaz, acessível e sustentável. Com a padronização de protocolos, a gestão integrada e o uso racional de tecnologias, são possíveis a redução significativa dos custos oncológicos sem comprometer a qualidade assistencial. A adesão de pagamentos baseados em valor também contribui para a eficiência do sistema de saúde, beneficiando tanto os pacientes quantos os gestores públicos e privados.